Há dois meses eu não te escrevo. Há dois meses eu não escrevo nada, o que significa que eu tenho muitas coisas pra contar. O que eu fiz durante esse tempo? Bem, além do habitual trabalho, engarrafamento, estresse, poeira, saldo negativo no banco, orações para Nossa Senhora do Fim do Semestre, prisão de ventre, sonhos sem sentido, planilhas no excel e os oito cafezinhos diários eu fiz algo novo: comecei uma nova etapa na minha vida.
É isso mesmo. Uma nova etapa, uma fase novinha em folha pela frente. Frio na barriga, esperança e várias mudanças à vista. Me custou caro, é claro. Para início de conversa, segui o exemplo do poeta e paguei a conta do analista pra nunca mais ter que saber quem eu sou. Em seguida, uma estafa no cartão de débito e uma viagem parcelada em 24 vezes sem juros. Não saiu barato, mas nada é barato na vida, né? A gente paga caro pelas escolhas e esse recém adquirido amadurecimento me custou um bocado. Mas definitivamente eu acho que esse é o tipo de investimento essencial.
Ah, fica tranquilo. Eu não vou surgir com o cabelo pintado de azul, os doze signos do zodíaco tatuados nas costas, com livros de astrologia debaixo do braço e um novo projeto de vida alternativa nas mãos. Eu passo por uma turbulência, mas, assim como eu, minhas turbulências sabem ser discretas e permanecem fiéis à minha essência.
Tudo muda e continua igual ao mesmo tempo. Ainda continuo refém do trabalho, do engarrafamento, da alergia à poeira, da prisão de ventre, do vício em cafeína e em paralelo um monte de coisas estão em mutação. Ninguém percebe e a cada dia que passa eu me convenço que as verdadeiras transformações acontecem bem debaixo do nosso nariz sem que a gente se dê conta.
Um belo dia você acorda e vê que se tornou um adulto, que não faz mais sentido fazer as mesmas escolhas de antes, que pizza de presunto com milho não te apetece mais, que você deixou de amar aquele seu eterno amor platônico. Comigo foi mais ao menos assim, mas tudo isso aconteceu porque eu aprendi a me perceber. Essa coisa de viver no piloto automático, sem parar pra se olhar, sem atentar para os seus desejos e para o que realmente faz sentido não faz o menor sentido, entendeu?
Chega um momento em que a gente precisa romper com esse fluxo robótico, com essa maneira louca de conduzir as coisas ou de achar que está conduzindo alguma coisa. Eu sei que é difícil pra você compreender, afinal nós estamos sempre em vibes opostas, né? Você está com pé grudado no acelerador e eu me agarrei à paz da serenidade. Não me olhe como se eu tivesse enlouquecido, pois eu nunca estive tão longe disso como agora. Eu tenho muitas coisas pra te contar, mas outra hora a gente continua, tá?